Se São Pedro realmente existe, ele provavelmente deve estar rindo das pretensas acusações feitas a ele quando o assunto é escassez de chuva. Cada nova descoberta científica só vem para corroborar a hipótese de que se quisermos que alguma coisa mude lá em cima, precisamos urgentemente revisar o que fazemos aqui embaixo.
Exemplo disso é visto nos resultados da pesquisa do brasileiro Paulo Artaxo, mencionado pela empresa Thomson Reuters como “um dos pesquisadores mais influentes do mundo”. Em estudo que integra a campanha científica GoAmazon e contando com a ajuda de dois aviões que sobrevoaram o território amazonense em 2014, o cientista comprovou a correlação existente entre as atividades humanas exercidas na capital e a diminuição gradual dos índices pluviométricos na região. Segundo os resultados, a formação de nuvens de chuva é diretamente afetada pelo encontro inesperado de dois cenários notoriamente contrastantes que, curiosamente, coabitam no mesmo estado: Floresta Amazônica e Zona Franca de Manaus.
Embora estes dois ambientes estejam separados por centenas de quilômetros, a fumaça que sai das chaminés das mais de 700 indústrias forma uma gigantesca pluma de poluentes que, transcorrendo este espaço com a ajuda dos ventos, acaba encontrando-se com uma outra camada bem diversa em sua natureza: os compostos orgânicos voláteis – os VOC’s -, provenientes, por sua vez, do metabolismo da vegetação amazônica. Se estes percorressem um caminho livre até a troposfera, o resultado seria nuvens de chuva resultantes das reações entre VOC’s e os gases – entre eles o oxigênio – presentes nessa região. Entretanto, ao chocarem-se com a pluma de poluentes, este processo é interrompido.
E não é apenas a formação de nuvens que sofre alterações. Uma outra série de reações é desencadeada pelo encontro de VOC’s e da pluma de poluentes, as quais resultam num outro gás: o ozônio. Enquanto em concentrações normais este elemento não representa ameaça alguma a vida vegetal, em doses exageradas ele se torna fitotóxico. É exatamente o que acontece na atmosfera amazônica. Os níveis de ozônio, nessa situação, podem aumentar em até quatro vezes, e ao sentirem a diferença, a reação das plantas é similar a de um ser humano numa sala cheia de fumaça; da mesma forma que em tal situação você respiraria o menos possível, as plantas simplesmente se recusam a abrirem seus estômatos. Assim, a taxa de fotossíntese é afetada, e a consequência lógica é menos oxigênio e mais carbono na atmosfera.
Agora que já se sabe com maior exatidão como esta pluma de poluentes afeta a vegetação amazônica, resta ainda quantificar esses efeitos, ou seja, verificar, em números, o quanto a floresta está sendo, de fato, afetada. Isto porque a existência da floresta depende diretamente de sua taxa fotossintética. Se o ecossistema passar a produzir menos do que o necessário para a sua própria existência, perde-se sua estabilidade e ele deixa de ser autossustentável. E nem é preciso dizer o quanto nós somos diretamente afetados por essa realidade. A essa altura do campeonato, qualquer discussão sobre a importância da Amazônia para o planeta é absolutamente redundante.
Fonte: Diariodebiologia
Poluição das grandes cidades está afetando o índice pluviométrico e se tornou uma ameaça para a Amazônia
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josé