segunda-feira, 6 de julho de 2020

Médicos brasileiros anunciam paciente que está há 17 meses sem vírus HIV

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontam caminho promissor para eliminação do vírus causador da síndrome da imunodeficiência adquirida



Após participar de ensaios de um tratamento desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um paciente não identificado que conviveu com o HIV por pelo menos sete anos está há 17 meses sem sinais do vírus causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). Há um ano e meio, ele parou de tomar os medicamentos contra a doença e, desde então, segue sem o microrganismo no corpo, relata reportagem exclusiva da CNN Brasil.

O paciente participou de um estudo liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz e mostra que os cientistas brasileiros estão no caminho certo da cura para a síndrome. Segundo o médico, o vírus não foi detectado no corpo do paciente nem mesmo após passar por exames de alta precisão de diagnóstico. O número de anticorpos que combatem o HIV, que são usados como parâmetro para descobrir se uma pessoa contraiu o vírus ou não, também tem caído progressivamente, "o que é uma evidência de que o vírus pode não estar mais ali", disse Diaz, em entrevista à emissora

Ainda assim, o infectologista alerta que é cedo falar em cura e que há a possibilidade o vírus voltar a se manifestar, portanto, o paciente segue em acompanhamento.

Pesquisas anteriores

Os estudos coordenados por Diaz trabalham em duas frentes para combater o vírus HIV: a primeira utiliza medicamentos que eliminam o microrganismo durante sua replicação e células infectadas (mesmo que o vírus esteja adormecido nelas); e a segunda visa o desenvolvimento de uma vacina que leve o sistema imunológico a reagir contra as células doentes que os fármacos não conseguiram eliminar.

O paciente noticiado foi um dos 30 voluntários com carga viral indetectável e sob tratamento padrão que participaram de um dos testes do estudo, cujos primeiros resultados foram anunciados em 2018. Na época, os voluntários foram divididos em seis grupos e receberam diferentes combinações de remédios que eliminam o vírus, além do coquetel de antirretrovirais usado no tratamento padrão.

O subgrupo que apresentou os melhores resultados à época foi o de pacientes que receberam dolutegravir e maraviroc, aliados à nicotinamida (uma forma de vitamina B3 que impediu que o HIV se escondesse nas células) e à auranofina (que revelou potencial para encontrar células infectadas e matá-las).

Além disso, para fortalecer a imunidade dos voluntários, os pesquisadores também criaram uma vacina personalizada de células dendríticas (um tipo de glóbulo branco que nos protege de antígenos), baseada em monócitos (células de defesa) e peptídeos do vírus do próprio paciente. Assim, o próprio organismo pode aprender a detectar e destruir células infectadas, ajudando a eliminar o HIV.

Em 2018, Diaz havia explicado em nota quais seriam os próximos passos do estudo. “Somente após as análises de sangue e das biópsias do intestino reto desses pacientes vacinados é que partiremos para o desafio final: suspender todos os medicamentos de um deles e acompanhar como seu organismo irá reagir ao longo dos meses ou, até mesmo, dos anos”, disse. “Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí sim, poderemos falar em cura.”

Reprodução: Revista Galileu

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Oleh

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