Imagine este ambiente: uma caverna composta por um sistema de túneis subterrâneos alimentados por reservatórios de água cuja temperatura interior se mantém constante a 25 °C. Agora, jogue nesses túneis uma série de bichinhos, como aranhas, percevejos, minhocas, sanguessugas e tatuzinhos, e sele esse local completamente por 5,5 milhões de anos. Já pensou em o que você encontraria ao abrir a caverna depois de todo esse tempo?
Esse local intocado que descrevemos acima existe e foi descoberto acidentalmente na Romênia em 1986, quando uma equipe de engenheiros realizava levantamentos na região do Mar Negro para a instalação de uma central de energia elétrica. A estrutura de túneis foi encontrada completamente isolada a quase 20 metros de profundidade e recebeu o nome de Caverna de Movile.
Ecossistema imperturbado
Apesar do nome bonito, o local recebeu o apelido carinhoso de “caverna envenenada” — devido à falta de oxigênio e os altos níveis de gases tóxicos, como o dióxido de carbono e o sulfeto de hidrogênio, em seu interior. Aliás, por conta desse ar pouco convidativo, foi uma enorme surpresa quando alguns cientistas decidiram explorar esse mundo subterrâneo e descobriram que havia uma enorme abundância de criaturas vivendo nesse ambiente inóspito.
De acordo com um dos 30 cientistas que tiveram acesso à caverna envenenada, dos 48 “cavernícolas” identificados até agora, 33 eram desconhecidos para a Ciência. Além disso, a maioria das criaturas encontradas até o momento são desprovidas de olhos (em função da falta de necessidade desses órgãos pela completa falta de luz), possuem longas antenas e membros para se locomover na escuridão e têm corpos completamente brancos ou translúcidos.
Curiosamente, embora não existam mosquitos na caverna, as aranhas que vivem em seu interior tecem teias — para capturar pequenos insetos da ordem Collembola que saltam e ficam presos nas armadilhas criadas pelos aracnídeos.
Mistério da vida
Outro fator que deixou os pesquisadores perplexos com respeito à caverna foi como a vida floresceu nesse ambiente. Afinal, na superfície, as plantas usam os raios solares para extrair o dióxido de carbono do ambiente para convertê-lo em compostos orgânicos. Esses compostos então são usados para o desenvolvimento de folhas, bulbos e raízes — que servem de alimento para uma porção de animais.
Só que não existe luz solar na caverna, o que significa que a fotossíntese é impossível de acontecer por lá. Ademais, o sistema de túneis se encontra selado por uma grossa camada de argila que impede que a matéria orgânica da superfície chegue até seu interior por meio da água.
Falando no líquido, tudo indica que a água chegue até Movile a partir de reservatórios situados sob o local — e análises revelaram que ela não contém partículas que sirvam de alimento. Então, como é que existe tanta vida na caverna?
Tapetes
Os cientistas descobriram que, na verdade, os túneis e a água são cobertos com uma espécie de película que parece uma folha de papel molhado, e esses “tapetes”, por sua vez, contêm milhões de organismos autótrofos — que são os responsáveis pela sobrevivência da comunidade de Movile.
Esses organismos — em sua maioria bactérias — se mantêm vivos por meio de um processo chamado quimiossíntese, no qual produzem seu próprio alimento a partir de compostos químicos presentes nas águas da caverna. E são esses microrganismos que servem de base para a sobrevivência dos demais moradores do local.
Embora a caverna tenha sido descoberta há 30 anos, os cientistas ainda estão tentando desvendar os mistérios que esse local único guarda. Contudo, uma coisa já é sabida a respeito de Movile: ela é um dos ecossistemas mais isolados já encontrados no planeta e possivelmente guarda uma enorme semelhança com as condições da Terra quando as primeiras formas de vida começaram a surgir por aqui há bilhões de anos.
Descubra o que havia na caverna fechada há 5,5 milhões de anos
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Oleh
josé