quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

2019 encerra a pior década da crise climática

Organização Meteorológica Mundial alerta que este ano estará entre os três mais quentes já registrados



O ano de 2019 põe fim a uma década sombria na crise climática que atinge todo o planeta, devido ao acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera, segundo a maioria dos cientistas. Assim alerta a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que apresentou nesta terça-feira na COP25, conferência realizada em Madri, seu relatório anual sobre o estado do clima.

"2019 encerra uma década de calor global excepcional, perda de gelo e recorde no aumento do nível do mar, impulsionados pelos gases do efeito estufa expelidos por atividades humanas", detalhou a organização. Dois dados específicos dão uma ideia da magnitude do problema: as temperaturas médias para os atuais períodos de cinco anos (2015-2019) e dez anos (2010-2019) quase certamente serão “as mais altas já registradas". E, faltando quase um mês para seu final, este 2019 já é apontado pela OMM como o segundo ou terceiro ano mais quente desde que existem registros confiáveis, a partir de 1850. "O retrato geral não vai mudar", observou Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, em referência ao tempo que ainda falta para o final do ano.

No ano em curso –os dados usados pela organização abrangem de janeiro a outubro–, a temperatura média no planeta esteve aproximadamente 1,1 grau Celsius acima do registrado no período pré-industrial. E as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, que superaquecem o planeta, alcançaram um nível recorde de 407,8 partes por milhão em 2018 e continuaram subindo em 2019.

Taalas alertou que os países não estão no caminho de conseguir limitar o aquecimento a certas margens seguras. O Acordo de Paris determina que esse limite de segurança seria de 1,5°C a 2°C em relação aos níveis pré-industriales. Acima disso, os impactos do aquecimento serão mais duros, na forma, por exemplo, de fenômenos meteorológicos extremos mais frequentes e intensos. Para cumprir o Acordo de Paris, recordou Taalas, é preciso que até 2050 o saldo líquido das emissões caia a zero, uma meta que a maioria dos países não assume atualmente. "Estamos nos dirigindo agora a um aumento da temperatura de mais de 3°C até o final do século", observou o diretor da OMM, um organismo vinculado à ONU. "O nível de ambição tem que ser maior", concluiu.

Uma das consequências mais evidentes do aquecimento é o aumento do nível do mar, que "se acelerou desde o início das medições por satélite, em 1993, devido ao derretimento das camadas de gelo na Groenlândia e na Antártida". Em setembro e outubro foram registrados níveis mínimos diários de gelo no Ártico nunca vistos anteriormente.

Os oceanos funcionaram durante décadas como reguladores do clima, ao absorver o calor e o dióxido de carbono. Mas, segundo alerta a Organização Meteorológica Mundial, eles já estão "pagando um alto preço". A temperatura alcança níveis recordes no mar, e a acidificação da sua água cresceu 26% desde o início da era industrial, o que está danificando os ecossistemas marinhos, segundo Taalas.

Fenômenos extremos

A mudança climática não está ligada apenas ao aumento das temperaturas médias, mas também a fenômenos meteorológicos extremos. Por exemplo, as inundações como as vividas neste 2019 no centro dos Estados Unidos, no norte do Canadá, no norte da Rússia e no Sudoeste da Ásia, que "receberam precipitações anormalmente altas". O relatório da OMM faz um repasse das principais inundações deste ano, como as do Irã, que "foi gravemente afetado" em março e abril.

No lado contrário estão as secas que atingiram o Sudeste Asiático e o Sudoeste do Pacífico em 2019. E a OMM põe o foco desta vez nas chamadas secas de longa duração. Um exemplo é a Austrália, país onde muitas zonas do interior registram estiagem aguda desde 2017. No caso da zona central do Chile, aponta o relatório, viveu-se outro ano "excepcionalmente seco".

As ondas de calor também fazem parte do resumo apresentado esta terça-feira. Este fenômeno golpeou especialmente a Europa em junho e julho. "Na França, em 28 de junho se marcou um recorde nacional de 46°C"; também se chegou a temperaturas nunca vistas na Alemanha (42,6°C), Países Baixos (40,7°C), Bélgica (41,8°C), Luxemburgo (40,8°C) e Reino Unido (38,7°C).

Risco para a saúde e a segurança alimentar

A OMM também faz um balanço em seu relatório dos impactos dos fenômenos extremos sobre a saúde humana. E recorda, por exemplo, que a onda de calor de julho no Japão causou "mais de 100 mortes e 18.000 hospitalizações". Na Europa, é mencionada a onda de calor de junho, com as mortes registradas na França e Espanha. A mais mortífera, porém, foi a segunda onda de calor, a de julho. "Nos Países Baixos, ela foi associada a 2.964 mortes, quase 400 a mais que durante uma semana média do verão".

Em relação à segurança alimentar, as secas na África farão que a "produção regional de cereais seja aproximadamente 8% menor que a média dos últimos 15 anos". "Espera-se que 12,5 milhões de pessoas na região sofram uma grave insegurança alimentar até março de 2020", adverte a OMM, apontando que a cifra é 10% superior à do ano anterior.


Reprodução: EL PAÍS

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Oleh

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