Núcleo da galáxia apresenta altos e baixos abruptos no sistema estelar
Cerca de um bilhão de anos atrás houve uma explosão extremamente violenta de formação de estrelas no centro da Via Láctea. Ao contrário do que os cientistas previam até agora, a formação das estrelas no centro não foi contínua ao longo da vida da Via Láctea e pode ser mais bem definida como abrupta e com grandes pausas. A irrupção ocorreu após bilhões de anos de tranquilidade e deu origem a mais de 100.000 supernovas. Essas explosões correspondem ao final da vida de uma estrela muito massiva. Os astrônomos podem, portanto, concluir que houve um nascimento muito abundante de astros de todos os tipos, incluindo muitos de grande massa, que tiveram uma curta existência e acabaram nesse tipo de explosão.
Foi o projeto Galacticnucleus, liderado por Rainer Schödel, pesquisador do Instituto de Astrofísica da Andaluzia (IAA), do Conselho Superior de Pesquisa Científica (CSIC), e segundo autor do estudo divulgado nesta segunda-feira na Nature Astronomy, que proporcionou tais conclusões sobre a história da nossa galáxia. “Graças ao nosso catálogo de estrelas tão detalhado e aos dados compilados pudemos entender a galáxia que habitamos. Esta nova descoberta é um dos maiores resultados e tão somente uma pedra de um mosaico para revelar a história do universo”, explica o especialista.
Um dos grandes objetivos dos astrônomos, quando obtiveram o catálogo em outubro, era entender a formação dessas estrelas, e alcançaram essa meta. O universo tem mais de 13 bilhões de anos. No total, 80% das estrelas no centro da Via Láctea se formaram desde esse passado remoto, entre o nascimento do universo e até 8 bilhões de anos atrás. O estudo, cujo autor principal é Francisco Nogueras Lara, pesquisador do IAA, revela que esse período de treinamento inicial foi seguido por cerca de 6 bilhões de anos de descanso durante o qual poucas estrelas nasceram.
Esse estágio, que os cientistas chamam de "estéril", foi interrompido por um episódio cujas condições são comparáveis às das galáxias starbust (explosões de estrelas) que mostram um ritmo de mais de cem massas solares por ano, muito superior à taxa atual da Via Láctea, que não supera duas. “Foi um dos momentos mais violentos da história da galáxia. Normalmente, a cada 100 anos há uma explosão de uma supernova em toda a galáxia. Neste caso, a mesma energia foi liberada apenas no núcleo, ou seja, em uma décima parte”, diz Schödel. Nesse tipo de fenômeno, as estrelas que nascem, com uma massa combinada de várias dezenas de milhões de sóis, têm uma vida breve e explodem. Queimam seu combustível e seu hidrogênio nuclear depressa demais em comparação com as estrelas menores.
Pesquisadores estudaram mais de três milhões de estrelas, cobrindo uma área correspondente a mais de 60.000 anos-luz quadrados, graças à câmera infravermelha do telescópio VLT (Very Large Telescope) no deserto do Atacama (Chile). Uma das hipóteses que eles propõem para explicar esse acontecimento, ocorrido há relativamente pouco tempo em termos astronômicos, é que uma galáxia anã cruzou o plano galáctico e, portanto, perturbou o sistema. “Mas é difícil saber. Por enquanto, só podemos fazer especulações”, previne o cientista.
David Galadí Enriquez, astrofísico do Observatório de Calar Alto (Almeria, Espanha), que já havia acompanhado a evolução do projeto quando conseguiram o catálogo, compara a história da astronomia com a da geologia. “O que este estudo demonstra é que, nos dois casos, é uma questão de combinação entre gradualismo e catastrofismo. A história se baseia em uma continuidade [formação de estrelas no disco galáctico de maneira sustentável] perturbada por episódios brutais surpreendentes como este, com picos de atividade impressionantes”, conclui.
Reprodução: EL PAÍS
Astrônomos detectam uma das explosões mais violentas na história da Via Láctea
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Oleh
Pedro Rios