quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Mutações no coronavírus podem torná-lo mais mortal


Uma das características dos vírus é sua extraordinária capacidade de reprodução e, no processo, cópias com mudanças tendem a aparecer. Por isso, não foi surpresa quando aquele que causa a covid-19 (chamado SARS-CoV-2) começou a gerar variantes à medida que se espalhava pelo mundo.

Hoje, existem cerca de 30 mil conhecidas, e elas são acompanhadas de perto desde que coronavírus surgiu na cidade de Wuhan, na China. Dentre todas as cepas, três têm o potencial de mudar os rumos da pandemia e, por isso, são chamadas de variants of concern (variantes de preocupação, ou VOC). Quanto mais o vírus se replica e se espalha, maiores as chances de variantes surgirem.

A velocidade com que o vírus se replica não prima pelo cuidado em reproduzir seu código genético sem erros, o que acaba gerando mutações. Muitas são perdidas pela morte do vírus; outras são inócuas, mas uma parte é viável e torna o vírus mais resistente, a doença mais contagiosa, seu efeito mais mortal.



As variações se espalham e se acumulam, dada a velocidade com que o vírus entra nas células, reproduz-se freneticamente e toma o organismo, pulando de um indivíduo para outro. Esse é o grande desafio na produção de uma vacina.
Variante B.1.1.7

A primeira variante que suscitou preocupação entre os pesquisadores surgiu no Reino Unido. Um pouco antes do Natal de 2020, amostras colhidas de dois pacientes mostraram que o coronavírus havia mudado, e muito. Foram registradas 23 mutações: 13 alteraram as sequências de proteínas do vírus e oito, na proteína das espículas – as pontas da coroa do vírus e responsáveis por fazer com que ele se prenda ao receptor ACE2 na membrana e assim, consiga infectar a célula.

A proporção da variante entre os casos de covid-19 começou a subir rapidamente nas semanas seguintes, o que levou os pesquisadores a perceber que o vírus havia incorporado uma mutação que o fazia ser capaz de se espalhar mais facilmente de pessoa para pessoa. Uma das mutações dessa variante, a N501Y, altera o aminoácido na posição 501 da sequência da proteína da espícula.

Essa troca aconteceu exatamente na região onde o vírus se liga ao receptor ACE2; em camundongos, a mudança mostrou que o vírus se tornou mais eficiente em se ligar à célula, tornando a doença mais infecciosa e virulenta. Outra mutação, chamada de P681H, aumentou a capacidade do vírus de se fundir à membrana e despejar seu conteúdo dentro da célula.

Essas e outras mutações elevaram a capacidade de transmissão do vírus em até 56%, contaminando a população de mais de 60 países – segundo o americano Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), deverá ser a cepa predominante do país até março. No Brasil, os primeiros dois casos foram detectados em São Paulo.

Mais mortes

Mesmo que em números relativos não haja evidências de que a B.1.1.7 aumente a gravidade da doença ou provoque mais mortes, a velocidade maior de contágio (e a superlotação das unidades de saúde) elevou o número total de casos mais graves e mortes, em números absolutos.

No último dia 21 de janeiro, o New and Emerging Respiratory Virus Threats Advisory Group (Grupo Consultivo de Ameaças de Vírus Respiratórios Novos e Emergentes, ou NERVTAG) disse que "há uma possibilidade realista de que a infecção com VOC B.1.1.7 esteja associada a um risco aumentado de morte”.

A preocupação então se voltou para as vacinas que estão sendo usadas para combater a pandemia e sua eficácia contra a nova variante. Pfizer/BioNTech e Moderna, os laboratórios que produzem as chamadas vacinas gênicas (baseadas em RNA mensageiro), já declararam que os imunizantes continuam eficazes frente à nova cepa.

Variante 501Y.V2

Um pouco antes de o mundo tomar conhecimento da B.1.1.7 varrendo o Reino Unido, autoridades sanitárias da África do Sul anunciaram que uma variante estava prevalecendo entre os casos da doença relatados nas províncias de Eastern Cape, Western Cape e KwaZulu-Natal: a 501Y.V2, assim nomeada por ter uma das mutações encontradas na B.1.1.7 – aquela que aumenta a eficiência do vírus para se ligar à membrana da célula, 
aumentando a virulência da covid-19.

Foram detectadas nessa variante 21 mutações, incluindo a citada acima. Outras duas, porém, têm deixado especialistas preocupados quanto à resposta imunológica. As mutações (ambas nas proteínas das espículas) são conhecidas como K417N e E484K. Se a primeira torna a ação dos anticorpos menos eficaz, a segunda reduz a resposta imunológica em até dez vezes. As vacinas baseadas em RNAm, porém, ainda protegem quem recebe o imunizante, mesmo que haja queda na eficiência.

Variante P.1

Quanto mais vírus de espalham, mais chances existem de que ele sofra mutações e crie variantes – o tempo e o número de hospedeiros contam a seu favor. A terceira variante surgiu em Manaus (AM), depois de a cidade ter sido devastada pela covid-19 até meados de 2020 – em outubro, 75% da população já havia sido infectada. Dois meses depois, os casos voltaram a subir mas, dessa vez, com mais velocidade: o SARS-Cov-2 havia evoluído para a 
variante P.1.


Ela reúne, em suas espículas, dez mutações, incluindo as citadas N501Y, E484K e K417T, o que pode indicar que a doença é transmitida mais facilmente, mais virulenta e provoca menos resposta imunológica – se ela é mais mortal, ainda não se sabe, mas as consequências de sua evolução são também medidas pelo colapso da rede hospitalar do Estado.

Há um mês, a variante respondia por 42% das amostras de SARS-CoV-2 sequenciados em Manaus; agora, ela está em 91,4% das amostras colhidas este mês no estado, segundo o Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.

A P.1 já está em sete países, e o temor das autoridades sanitárias agora é que ela se espalhe pelo Brasil através do envio de pacientes para outros estados, por conta da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus. Ainda não há dados sobre a eficácia das vacinas hoje distribuídas no Brasil no combate a essa variante do SARS-CoV-2.

Reprodução: Tecmundo

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Oleh

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