quarta-feira, 10 de março de 2021

Sem lockdown, Brasil pode criar variantes potentes do coronavírus


A combinação entre o descontrole da epidemia, vacinação lenta e falta de medidas mais rígidas de isolamento social pode fazer com que cepas poderosas do
coronavírus surjam no Brasil. O alerta é feito por pesquisadores do Reino Unido.

De acordo com os especialistas, ouvidos pela BBC Brasil, ações mais severas como lockdowns podem ser necessárias neste estágio da pandemia no país. O fechamento completo pode evitar com que vacinados sejam expostos às mutações do vírus que estão circulando.

O virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, usa o exemplo da variante P.1 do coronavírus, que surgiu no estado de Amazonas. Ele explica sobre um cenário em que uma pessoa recém vacinada, que ainda não está protegida, pode acabar tendo contato com a P.1.


Esse encontro possui altos riscos de gerar mutações mais perigosas que são resistentes aos anticorpos do imunizante.

"Se esses anticorpos da vacina surgem enquanto a infecção está ocorrendo e replicando no seu corpo, o vírus pode se replicar de maneira a evadir o anticorpo que está sendo produzido, num movimento de seleção natural”, pontua Tang.

A possível transformação do vírus faria com que a pessoa, mesmo vacinada, pudesse passar essa nova versão adiante. O perigo aumenta em um cenário em que não há medidas rígidas de distanciamento social como o lockdown, diz o especialista.


"Se há uma replicação descontrolada do vírus, ou seja, transmissão num ambiente sem regras de distanciamento social, lockdown e uso de máscaras, as pessoas suscetíveis vão se misturar com as vacinadas. Sem barreiras, o vírus pode se transmitir de uma população para outra, potencialmente gerando variantes que escapam à vacina", argumenta o virologista.
Defesa de ações mais rígidas

Peter Baker, professor de Saúde Global da Imperial College London, diz que o lockdown é uma alternativa necessária para "controlar" a pandemia temporariamente.

"Do ponto de vista científico, fechar fronteiras e implementar quarentenas em casa são eficazes em diminuir a infecções. E há benefícios em reduzir infecções. Você diminui o risco de surgirem variantes, ganha tempo para a campanha de vacinação avançar e para pesquisas concluírem vacinas adaptadas às variantes existentes hoje", defende.

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro atacou as ações restritivas que têm sido adotadas por vários governadores e prefeitos do país. Ele defendeu a livre circulação de pessoas, comércios abertos e chegou a dizer que ficar em casa era “frescura” e “mimimi”. As falas aconteceram na semana em que o Brasil atingiu um novo recorde de mortos por covid-19 em um dia.

O Reino Unido é justamente um exemplo de que lockdowns funcionam, dizem os cientistas. A medida está em vigor no país desde janeiro e reduziu as infecções em dois terços. Na capital Londres, as infecções de coronavírus tiveram queda de 80%.

Reprodução: tecmundo

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Oleh

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